sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Práticas Pedagógicas Inclusivas



Práticas Pedagógicas Inclusivas

Por favor, aceitem o risco de ser professores num tempo que
o conhecimento muda a cada instante, exigindo dedicação
para acompanhar as mudanças contínuas. Aceitem com
audácia esse desafio, e sigam rumo à criação de novas
                                                                                               maneiras de conhecer, por mais efêmeras que
 sejam (BUARQUE, 2003, apud MARQUES, 2015).
           
                        Refletindo sobre o tema Práticas Pedagógicas Inclusivas, decidi falar sobre minha primeira tentativa de realizá-la. Como já mencionei em postagens anteriores, atuo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo como Professora de Português, Inglês e Espanhol – isso mesmo, três línguas: a materna e mais duas estrangeiras, um desafio que amo! Em 2016 tive o privilégio de trabalhar com uma turma lecionando, ao mesmo tempo, Português e Inglês por um semestre; e foi dentro dessa sala de aula que conheci duas pessoas que influenciariam minha prática docente para o resto de minha vida. Essas duas pessoas me apresentaram uma nova perspectiva de ver a vida: minha querida aluna com deficiência auditiva e sua intérprete, uma grande dupla!
            No início, após o medo inicial de como tratar essa aluna especial, procurei pensar em como proporcionar a esta aluna - que tinha Libras como sua primeira Língua e que não conhecia o Português, uma experiência de aprendizagem na Língua Inglesa – que poderia se tornar sua terceira língua.
            Uma das primeiras ações foi pensar em uma maneira de adaptar os materiais existentes, bem como as aulas, as atividades e avaliações. Para isso, a ajuda recebida pela intérprete foi fundamental. Como a aluna tinha facilidade e gostava de desenhar, tivemos a ideia de trabalhar com a tradução da Libras para a ASL (American Sign Language) e a posterior elaboração de um dicionário ilustrado por ela.
            A atividade consistia em trabalhar com o auxílio de um dicionário trilingue, a aluna recebia uma folha com um vocabulário relacionado ao conteúdo trabalhado por todos os alunos da sala – no exemplo que vou usar estávamos trabalhando com os gentilícios, no segundo bimestre. Depois tinha que pesquisar  no dicionário como era essa palavra em Língua de Sinais Americana, e pesquisar também a bandeira relacionada ao gentilício estudado usando o notebook em sala de aula. A última etapa consistia em reunir as duas informações: o desenho da bandeira e o desenho simplificado descrevendo o sinal correspondente, na folha recebida anteriormente.   

            #PraCegoVer: atividade desenvolvida por uma aluna com deficiência auditiva durante as aulas de inglês no IFSP – câmpus Catanduva.


     A ideia era que, posteriormente, a aluna pudesse ensinar aos colegas de classe as palavras em Libras e em ASL, para que assim houvesse uma troca significativa de experiências e um processo de aprendizagem significativa para ambos os estudantes, em que todos se beneficiariam.
            Infelizmente, como tive que deixar as aulas com esta turma, não pude saber o desfecho dessa atividade e nem se os demais professores que vieram depois de mim continuaram com a mesma estratégia de ensino. Mesmo assim, me senti feliz e realizada por pensar em algo diferente e que teve como início o objetivo de incluir uma aluna que, de todas as formas, se tornou muito especial pra mim!




MARQUES, M. Inclusão educacional e a necessidade de formação continuada. In: ROSITO, M. C., BORTOLINI, S. e ACCORSI, M. I. (Orgs.) Atendimento educional especializado na perspectiva da educação inclusiva. Porto Alegre: Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (CORAG), 2015. p. 7-22. Disponível em http://bento.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/201552614310819042042__miolo_aee.pdf Acesso em 22.DEZ.2016


domingo, 20 de novembro de 2016

“Acessibilidade e Inclusão”



“Acessibilidade e Inclusão”

#PraCegoVer Exemplo de acessibilidade e inclusão em parques infantis: quando uma imagem vale mais que mil palavras.




            Falar de acessibilidade e inclusão pode parecer, à primeira vista, um tema recorrente e bastante discutido em nossa sociedade atual. Porém, quando paramos para refletir sobre o assunto, alguns questionamentos nos vem à mente automaticamente: qual a melhor definição para essas palavras? Qual a melhor maneira de colocá-las em prática?
            De acordo com Marta Gil, no texto “Acessibilidade, Inclusão e Desenho Universal: Tudo a ver”:
“Alcançar condições de acessibilidade significa conseguir a equiparação de oportunidades em todas as esferas da vida. Isso porque essas condições estão relacionadas ao AMBIENTE e não às características da PESSOA. Falar sobre alcançar condições de acessibilidade implica em falar de processo, que tem tempos e características diferentes em cada lugar, que tem idas, vindas, momentos que parecem de estagnação - mas, na verdade, são momentos em que novos conceitos, novas posturas e atitudes estão germinando. [...]”

            Nesse sentido, se estamos falando de um processo de acessibilidade, estamos automaticamente pensando em uma atitude que apresentará como consequência inclusão. Ações visando garantir o direito à acessibilidade acabarão promovendo a abrangência, compreensão e integração entre pessoas com e sem deficiência, exatamente o que define a palavra inclusão no dicionário eletrônico infopédia.
            Um ponto importante que permeia a vida das pessoas com deficiência e é muitas vezes esquecido é o direito, garantido por lei, à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer: o artigo 42 da lei no 13.146, de 6 de julho de 2015, diz A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas [...]”; a lei no 11.982, de 16 de julho de 2009, no artigo 4º, diz: “Os parques de diversões, públicos e privados, devem adaptar, no mínimo, 5% (cinco por cento) de cada brinquedo e equipamento e identificá-lo para possibilitar sua utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, tanto quanto tecnicamente possível.”
            No entanto, é visível que isso não vem acontecendo, infelizmente. Se a lei fosse rigorosamente cobrada e fiscalizada poderíamos promover a inclusão desde a infância. Nos parques infantis é que ocorre a integração entre as crianças por meio das brincadeiras , e, Denise de Ávila Moraes, em seu texto “A importância do lúdico na educação especial”, define a importância da brincadeira:
“A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo da vida natural interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que brinca sempre, com determinação autoativa, preservando, esquecendo sua fadiga física, pode certamente tornar-se um homem determinado, capaz de auto sacrifício para a promoção do seu bem e de outros... Como sempre indicamos o brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação, (FROEBEL, 1992, ).” A importância do lúdico na educação especial

            Seria possível proporcionar às nossas crianças, com e sem deficiência, a oportunidade de compartilharem o mesmo espaço físico e construírem uma relação genuína e desinteressada de convivência inclusiva que ambos levariam por toda vida, e influenciaria em sua formação como adultos diferenciados podendo atuar na construção de um mundo mais inclusivo.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida.

Pensar a pessoa com deficiência em minha me fez relembrar fatos que eu já havia esquecido, mas que rapidamente retornaram à minha memória, lembro-me que tinha uma tia avó com algum tipo de deficiência mental, que ficava quietinha e já não interagia com as pessoas, como eu era bem pequena, não tenho muitos detalhes sobre o caso dela, e ela já faleceu. Quando adolescente, conheci um menino surdo, tínhamos uns 13 anos, ele era muito inteligente, frequentava escola regular com a gente e conseguia falar, era oralizado. Na verdade, não me lembro de vê-lo utilizar a Língua de Sinais Brasileira.
Mas o que me chamou a atenção é que , sendo eu apaixonada por línguas, principalmente Língua Estrangeira, logo que ingressei na UFSCar para cursar Letras,fui promovida de secretária da escola de inglês onde trabalha para professora de inglês para crianças (1 a 4 série)  para algumas turmas, em alguns períodos em que eu não lecionava cheguei a atuar como auxiliar de sala em salas onde alguns alunos necessitavam de atenção especial. Nesta época cheguei a trabalhar com um aluno autista que adorava escalar as paredes da escola, mas que nunca me deu nenhum tipo de problema, lembro-me que ele ficava apático nas aulas e que fazia alguns rabiscos. Outra aluna que me marcou era uma menina, de outra sala que não se movimentava da cabeça para baixo e que andava presa à sua cadeira de rodas, sempre alegre e feliz e rodeada de coleguinhas qua a ajudavam em tudo que ela precisava. Me lembro também que as crianças agiam normalmente com esses colegas, de igual para igual.
Quando jovem,no início de minha carreira, não me deparei com alunos com deficiência em sala de aula, então não tinha tido até o ano de 2016, nenhuma preocupação com minha prática docente para alunos com algum tipo de deficiência.
Em 2016, já trabalhando no IFSP, lembro-me da minha primeira reunião antes do início das aulas, nessa reunião, há poucos dias do início do ano letivo, fomos informados que teríamos uma aluna com deficiência auditiva no Ensino Técnico de Redes de Computador  integrado ao Ensino Médio. Assim, do nada. Eu gelei. Fiquei com medo. Não sabia nem como abordar uma pessoa com este tipo específico de deficiência. Tive medo...
Recebemos algumas orientações da intérprete que a acompanharia durante as aulas. A insegurança continuou. E agora. 39 alunos sem deficiência específica, a princípio, e ela, a menina surda.
As aulas começaram, a intérprete nos pedia para enviar a matéria com antecedência, nós enviávamos, ela interpretava...aos poucos, eu, professora de português e de inglês dela; ela, a surda e a intérprete  começávamos a nos entender, e nós três, unidas conseguimos criar uma nova língua... não era LIBRAS, Inglês, Português, nem espanhol (o quatrilho em que me encontro na minha vida atual)... era a linguagem do amor, da dedicação, do esforço e da crença de que tudo é possível ao que crê... e não é que deu certo! Hoje, graças a essas duas pessoas maravilhosas que fazem parte da minha história com o IFSP, já fiz um curso à distância de LIBRAS, estou fazendo outro e pretendo aprender mais dessa língua tão singular na minha história.